InLoco (2) Luan Beschtold

Luan Beschtold in loco : primeiros passos de um cientista

Neste episódio da série In loco, Angélica Franceschini conversa com Luan Beschtold, que começou sua formação de cientista ainda no ensino médio.

Esse aqui é o Luan!

Antes de conhecer o Luan pessoalmente, eu já sabia que ele era o cara do PCR, o PCR boy. Todo mundo conhece ele assim! O apelido foi eternizado na camiseta do Terceirão.

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Três vezes na semana no período da tarde, eu encontro o Luan no Laboratório de Genômica e bioEnergia (LGE).

Eu fiquei intrigada com a experiência dele na Unicamp ainda no ensino médio. Para entender como um aluno, que ainda nem passou no vestibular, está inserido no contexto universitário e tão envolvido com ciência, fui conversar com ele.

Bate papo

A conversa começou com ele falando da infância, quando jogava Alquimia, e de personalidades icônicas da ciência, como o inventor Nikola Tesla. Deu para ver que ele é super ligado em ficção científica!

Diferente da maioria dos seus colegas que ainda estão no escuro em relação ao que querem para o futuro, esses interesses ajudaram o Luan ainda no ensino fundamental a pensar uma profissão.

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No curso técnico em Biotecnologia, o Luan experimentou várias disciplinas com mais profundidade do que no ensino médio convencional e percebeu como elas estão interconectadas.

Química e biologia são duas disciplinas essenciais da bioquímica, base para a biotecnologia e biologia molecular, que servem as linhas de pesquisa em fungos, bactérias e plantas no LGE.

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Básico do básico

No laboratório, o Luan começou aprendendo ações simples, como vestir as luvas de látex e manusear pipetas.

As luvas servem de proteção para o cientista na manipulação de reagentes tóxicos. Em um laboratório que mexe com ácidos nucleicos (DNA e RNA), as substâncias presentes nas mãos podem contaminar as reações. Nesse caso, a luva protege a reação.

Ao retirar as luvas da caixinha, você deverá pegá-las pelas bordas para evitar contaminação.

Já as pipetas são objetos usados para transferir líquidos de um recipiente a outro em volumes muito pequenos e manuseá-las requer destreza.

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A ponta da pipeta deve ficar virada sempre para baixo. Caso contrário restos de solução e material biológico podem contaminar internamente a haste da pipeta e, talvez, uma próxima reação.

Cuidados desse tipo fazem toda a diferença na pesquisa científica. Tudo deve ser feito nos mínimos detalhes para evitar erros e garantir a repetibilidade, ou seja, que os resultados sejam iguais quando o experimento é repetido.

O Luan é um cientista em formação! Há ainda muito o que aprender!

Quem indica

OK, você deve estar se perguntando: Como o Luan foi parar na Unicamp?

As atividades do Luan no LGE fazem parte do estágio de conclusão do curso técnico. A oportunidade apareceu através de um QI (Quem Indica). Em outras palavras, um amigo o apresentou no laboratório.

Quem recebeu o Luan para o estágio foi o Guilherme Borelli, o Fox. É ele quem supervisiona as atividades do Luan no laboratório.

“Eu dou uma forcinha na escrita dos projetos, relatórios e trabalhos de conclusão de curso e também ajudo os alunos com o desenho experimental e no treinamento de protocolos”, comentou o Fox.

Na foto abaixo, o Fox aparece sem jaleco. Da esquerda para direita, vê-se o Matheus e o Adriel, também integrantes do LGE.

O Fox é aluno de doutorado, engajado com educação e empreendedorismo. Além de suas pesquisas, ele exerce diferentes cargos em startups incubadas dentro do LGE. Curiosa, eu perguntei como ele lida com tantas tarefas diferentes.

“Como eu concilio, não sei. Tenho uma organização semanal e tento seguir. Quase nunca dá, mas como eu gosto de improvisos e zero de rotina, estou feliz assim!”, ele respondeu.

Protocolos

O trabalho do Luan envolve duas linhas de pesquisa bem distintas. Uma delas é o diagnóstico de doenças humanas. A outra, a detecção de microrganismos, majoritariamente leveduras capazes de produzir compostos de interesse para a indústria química.

Na sua pesquisa o Luan utiliza duas técnicas rotineiramente, a extração de DNA e o PCR.

Através de processos físico e químico isola-se o DNA dos demais componentes celulares. Para cada organismo existe um protocolo mais adequado, que garante maior quantidade e pureza.

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O processo químico é feito em pelo menos três etapas: rompimento celular com um detergente, precipitação do DNA em solução salina e álcool e purificação com álcool e água. No fim, o DNA é dissolvido em água ultrapura e está pronto para uso!

– Simples assim!

A ideia da PCR (Reação em Cadeia da Polimerase, da sigla em inglês) é gerar milhões de cópias de um pedaço do DNA de interesse. A reação em cadeia pressupõe dezenas de repetições de ciclos compostos por três passos, todos realizados em altas temperaturas: desnaturação (96°C), anelamento (55 a 65°C) e extensão (72°C).

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A reação é feita em um equipamento chamado termociclador.

– Faz todo sentido, não?!

Além da enzima Taq DNA Polimerase, resistente a altas temperaturas, a PCR demanda ainda alguns outros ingredientes: os iniciadores (ou primers), pedacinhos de DNA bem pequenos, delimitam o começo e o fim do trecho do DNA que deve ser copiado pela enzima; o tampão da enzima; e a água ultrapura. Todos os ingredientes são mantidos no gelo e misturados em quantidades definidas em um microtubo.

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A mistura dos ingredientes deve ser bem feita. Movimentar o líquido devagarinho para cima e para baixo com uma pipeta ajuda.

Volumes da mistura são transferidos para microtubos menores próprios para a PCR e depois o DNA que se quer amplificar é adicionado.

Prontos, os microtubos de PCR são posicionados no termociclador.

O equipamento é programado com a temperatura e o tempo de cada fase, além do número de ciclos. Finalizada a reação, com inúmeros fragmentos de DNA idênticos dentro de um tubinho é possível realizar coisas incríveis na biologia molecular.

Luan faz tantos PCRs nos dias em que está no LGE, que daí veio o apelido, PCR Boy.

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No caso do Luan, com o resultado da extração de DNA, PCR e outras técnicas da biologia molecular, ele e o Fox conseguem identificar a predisposição de uma pessoa a desenvolver problemas cardíacos ou determinar quais leveduras possuem um gene de interesse, como a xilose isomerase, que ajuda na conversão do açúcar xilose, em etanol.

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Tempo livre

A experiência do Luan no LGE o ajudou a ampliar sua visão sobre a ciência e também a desenvolver interesse por outras atividades.

Uma delas é o xadrez, introduzida pelo seu mentor, o Fox, exímio jogador. Hoje, além de trabalharem juntos, eles também praticam o jogo online.

Ao perguntar ao Luan como haviam sido as partidas de xadrez com o Fox no dia anterior, ele inicialmente me contou que foram “humilhantes”. Ele perdeu todas as partidas para seu mentor, mas aparentemente se divertiu bastante e aprendeu novas jogadas.

Luan já está no terceiro e último ano de Ensino Médio. Nas tardes que não está no LGE, ele estuda para o vestibular.

Os estudos e o xadrez também não são tudo e ele até arrisca algumas notas na guitarra e manobras de skate!



A experiência em fazer ciência dentro da universidade foi transformadora para o Luan. No LGE, ele encontrou pessoas que não só o incentivaram a desenvolver novas habilidades, como também colegas dispostos a ajudá-lo com dicas para o vestibular. Luan vai prestar Engenharia Química na Unicamp.

Futuro

Conhecê-lo foi revigorante, principalmente quando o mundo passa por uma onda anticiência. Precisamos de mais jovens com a energia do Luan.

Nesses tempos de descaso com a educação, por várias vezes me peguei pensando em como seria se eu fosse uma vestibulanda. Os cortes massivos e o estreitamento de opções para quem deseja ingressar no ensino superior e na pós-graduação me assustam.

Por outro lado, vejo que o Luan trilha seu caminho pela ciência com bastante entusiasmo e determinação. Torço para que ele continue desenvolvendo suas habilidades e potencialidades.

Continue explorando! Veja a história de outros jovens cientistas com quem conversei. É só clicar no título selecionado.

Créditos

Entrevista e roteiro original de Angélica Franceschini

Escrito por Angélica Franchescini e Camila Cunha

Câmera, direção e produção de Camila Cunha

Fotografia e edição de vídeo/imagem por Angélica Franceschini

Supervisão de Germana Barata, Gonçalo Pereira, Antonio Figueira

Participação de Luan Beschtold, Jennifer Wellen, Fellipe Mello e Danielle Scotton

Locações no Laboratório de Genômica e bioEnergia (LGE), Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e externas na Praça da Paz e Ciclo Básico na cidade universitária “Zeferino Vaz”, município de Campinas, São Paulo

Entrevistas e filmagens entre maio e outubro de 2019.

Com agradecimento ao Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp), Grupo Gestor de Tecnologias Educacionais (GGTE/Unicamp) e Júnior Paixão

Apoio da Fapesp – Programa Mídia Ciência (2018/17906-6 para CC; e 2019/07344-3 para AF)

CC BY-ND

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